Qual é a Real Fronteira entre "Nós" e "O Ambiente”?

Como o Ambiente Conversa com Você?

Onde termina o ser humano e onde começa o ambiente? 

Esta pergunta, aparentemente simples, revela-se um dos maiores enigmas da existência. 

A pele, que consideramos nossa fronteira natural, é na verdade uma “membrana porosa”, uma interface dinâmica em constante troca com o mundo exterior. 

Somos seres “permeáveis”, em constante diálogo molecular com o ambiente que nos cerca. A cada respiração, a cada toque, a cada olhar, cada pensamento, emoção, estabelecemos um dueto com o mundo que nos cerca. Vamos chamar de uma dança invisível de matéria e energia que desafia nossos conceitos tradicionais de individualidade.

Holobionte? Afinal, o que é isso?

“Holos” é todo, integral  e “Bionte” organismo vivo individual.

Nós nos imaginamos como um individuo, uma coisa só composta por partes com um comando central, o cérebro.  

O que chamamos de "eu" é, na verdade é um vasto ecossistema vivo, interdependente. 

Espere, precisamos entender como funciona um sistema, composto de partes interdependentes, como por exemplo em nosso organismo, o microbiana intestinal, o da pele, entre outros e dos quais dependemos para digestão, vitaminas e sistema imunológico.

O conceito de holobionte revoluciona nossa compreensão do ser humano, na idéia de indivíduos, mas composto por comunidades microorganicas

Olhe as evidências, em nosso corpo, aproximadamente 38 trilhões de células bacterianas convivem com cerca de 30 trilhões de células humanas, percebe como formamos uma super organismo complexo. 

Nossa pele, intestino e cavidades abrigam ecossistemas microbianos inteiros que não apenas coexistem conosco, mas são essenciais para nossa sobrevivência. Esta comunidade microbiana influencia desde nosso sistema imunológico, neurotransmissores, até nosso humor e comportamento. 

Os milhares de espécies de bactérias, fungos e vírus que nos habitam não são invasores, mas parceiros evolutivos com quem compartilhamos uma história de milhões de anos. 

Quando pensamos em "nós", deveríamos visualizar não um ser isolado, mas uma comunidade viva e diversa, um parlamento de células em constante comunicação. Vamos dar uma detalhada?

O ar interior, aromas, estão “dialogando” conosco, alterando nosso estado de humor e bem-estar

Respiração: O balé do oxigênio e gás carbônico 

A respiração, este ato tão automático que mal notamos, representa talvez nossa relação mais íntima com o ambiente. 

Processamos aproximadamente 11.000 litros de ar diariamente - um volume impressionante que demonstra nossa dependência absoluta do mundo exterior. 

Cada inspiração traz moléculas que podem ter sido exaladas por árvores da Amazônia ou que circularam pelos oceanos. Cada expiração devolve ao mundo partículas que serão absorvidas por plantas e outros organismos.Esta troca gasosa não é apenas uma necessidade fisiológica, mas um símbolo poético de nossa interconexão com a biosfera. O oxigênio que sustenta nossas células foi produzido por algas e plantas; o dióxido de carbono que exalamos alimentará estes mesmos organismos. 

Respirar é participar de um ciclo planetário, um lembrete constante de que não existimos isolados, mas como participantes ativos na respiração coletiva do planeta.

Além de a respiração ser fator regulador de estado de humor, chave para o inconsciente, haja vista aos pranayamas, meditação e técnicas respiratórias.

Bioeletricidade: A Troca invisível de Elétrons 

Nosso corpo é uma entidade elétrica. Cada célula mantém uma diferença de potencial elétrico através de suas membranas, cada pensamento surge de impulsos eletroquímicos entre neurônios. Esta natureza bioelétrica nos conecta intimamente ao ambiente através de fenômenos como o grounding ou aterramento. 

Quem não passou por isso? Aquele “choquinho” ao tocar a fechadura

Você já experimentou, em fases que o ar está mais seco, ao colocar a mão na fechadura, sai uma faisca de eletricidade estática, faz até barulinho, aí você pisa uns minutos na terra, grama e tudo volta ao normal?

Quando caminhamos descalços na terra, ocorre uma fascinante troca de elétrons. O solo, rico em elétrons livres, transfere estas partículas para nosso corpo, neutralizando radicais livres e reduzindo inflamação. Estudos científicos demonstram que esta simples reconexão com a terra pode normalizar ritmos circadianos, melhorar a qualidade do sono e reduzir marcadores de estresse oxidativo.

A água, especialmente quando em movimento como cachoeiras ou ondas do mar, gera abundância de íons negativos que, ao serem inalados, podem influenciar positivamente nosso estado fisiológico e psicológico. Da mesma forma, o vento transporta cargas elétricas e partículas que interagem com nossos sistemas biológicos. 

Somos, também, seres elétricos em constante diálogo energético com o ambiente.

Microbiota: Nossos Companheiros Invisíveis

Nossa relação com o ambiente é mediada em grande parte por nossa microbiota - o conjunto de microrganismos que habitam nosso corpo. Estes companheiros invisíveis não apenas nos ajudam a digerir alimentos e sintetizar vitaminas, mas também educam nosso sistema imunológico e influenciam nossa saúde mental através do eixo intestino-cérebro. 

Costumo dizer que bactérias boas são “nosso time”, são as do bem, probióticas e por outro lado aparecem invasoras, patogênicas, isto é, capazes de causar doenças. O nosso time nos defende do time invasor por diversos mecanismos!

A diversidade e saúde de nossa microbiota dependem diretamente de nossa exposição a ambientes naturais. Estudos mostram que pessoas que vivem próximas a espaços verdes ou que praticam jardinagem possuem microbiotas mais diversas e robustas. Cada contato com o solo, cada respiração em um ambiente natural enriquece nossa comunidade microbiana, fortalecendo nossa resiliência biológica e bem-estar geral. Isso sem mencionar os valores da dieta saudável, atividade física e sono regenerador como parte desta “modulação pró saúde”.

Banhos de Floresta e Fitoncidas: A Cura Através da Natureza

O "shinrin-yoku" ou banho de floresta, prática originária do Japão, ilustra perfeitamente como o ambiente natural pode ser medicina. Caminhar entre árvores não é apenas um prazer estético, mas uma imersão terapêutica em compostos bioativos

As árvores liberam fitoncidas, que são compostos orgânicos voláteis com propriedades antimicrobianas e imunomoduladoras.Pesquisas científicas demonstram que a exposição a estes compostos aumenta a atividade das células NK (Natural Killers), reduz níveis de cortisol e pressão arterial, e melhora funções cognitivas

As florestas não são apenas belos cenários, mas farmácias vivas que oferecem seus benefícios através do ar que respiramos. 

Este diálogo bioquímico entre humanos e florestas é um exemplo eloquente de como somos parte indissociável do tecido vivo do planeta. 

BioNeuroFeng: Integrando Corpo, Mente e Ambiente

O BioNeuroFeng emerge como uma metodologia integrativa que reconhece e operacionaliza estas conexões profundas entre ser humano e ambiente. Ao unir conhecimentos de biologia, neurociência e princípios milenares como o Feng Shui, esta abordagem propõe um olhar sistêmico sobre nossa existência, reconhecendo que saúde e bem-estar emergem do equilíbrio entre corpo, mente e ambiente.

Citei aspectos biofísicos, que são muito relevantes,  mas vale lembrar que no nosso processamento via sentidos, olhos, ouvidos, etc., a cada segundo, recolhemos 11.000 de bits (unidade de informação), e somente ficamos conscientes de 40 bits. Ou seja, cognição, emoção é mais um capítulo deste holobionte que somos.

Por tudo isso, a metodologia do BioNeuroFeng, sistematiza e aplica conhecimentos sobre fluxos de energia, disposição espacial, qualidade do ar, iluminação e materiais para criar ambientes que atuam como verdadeiras extensões de nosso ser biológico, mental e espiritual. Não se trata apenas de estética, mas de criar espaços que dialoguem harmoniosamente com nossa fisiologia e psicologia, potencializando nossa vitalidade e desenvolvimento pessoal.

O Ambiente Como Extensão de Nós Mesmos 

Nossa compreensão contemporânea das ciências sugere que a fronteira entre organismo e ambiente é muito mais permeável do que imaginávamos. Somos seres em constante troca de gases, elétrons, microrganismos, moléculas e informação com o mundo ao nosso redor. Esta visão integrativa nos convida a repensar profundamente nossa relação com os espaços que habitamos. 

Para vivermos bem, temos que ter nossos ambientes construídos, não necessariamente luxuosos, mas sim, altamente coerente com as nossas necessidades bio psicofísicas! 

Em um mundo cada vez mais artificial e desconectado da natureza, o BioNeuroFeng nos lembra que nossos ambientes não são meros cenários passivos, mas participantes ativos em nossa saúde e desenvolvimento. 

A seleção consciente de cada elemento que compõe nossos espaços, desde materiais e cores, plantas e disposição, luz/iluminação, privacidade acústica, equilíbrio de temperatura,  torna-se um ato de autocuidado e evolução pessoal, permitindo que nossa vida flua em sua plenitude através da harmonia entre o ser e seu entorno. Aliás temas frequentes aqui neste espaço.

A criação de ambientes conscientes, onde cada elemento é selecionado com intencionalidade e conhecimento de seu impacto no ser humano, representa um caminho poderoso para promover saúde, bem-estar e desenvolvimento pessoal através da integração harmônica entre nós e o mundo que nos rodeia.

Me diga, qual a sua opinião e percepção sobre sermos “holobiontes”?  O nome é estranho mas expressa a idéia? 

Sobre termos esta “permeabilidade” de tudo que o ambiente nos traz?

Abraço integrativo

Maitê

Para saber mais:

The effects of grounding (earthing) on inflammation, the immune response, wound healing, and prevention and treatment of chronic inflammatory and autoimmune diseases JL Oschman, G Chevalier, R Brown - Journal of Inflammation Research, 2015 - Taylor & Francis

Chromatic Perception in Constructed Space: Neurobiological and Cognitive Aspects (Percepção Cromática no Espaço Construído: Aspectos Neurobiológicos e Cognitivos) Publicação: Pellizzer, I.N.C. & Mota, T. - ResearchGate, 2020

The Holobiont as a Biosemiotic System: Health and Dysbiosis Signals in the Human Gut Microbiome Publicação: Méndez-Veras, R. - Biosemiotics, 2025 - Springer

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